O paradoxo do desperdício no brasil
Enquanto toneladas de alimentos são jogadas fora todos os anos, supermercados brasileiros amargam prejuízos bilionários com frutas, legumes e carnes que estragam nas prateleiras. Em épocas como o Dia das Mães e o Natal, esse problema se agrava: a demanda por produtos frescos cresce, mas o comportamento de consumo continua imprevisível. Isso transforma o planejamento de estoque em um jogo de risco — porém, cada vez mais controlado.
Tecnologia, inovação e responsabilidade social
Para virar esse jogo, redes varejistas estão apostando em soluções tecnológicas. Um exemplo é a Hortifruti Natural da Terra, que, desde 2024, utiliza algoritmos para prever a demanda e já conseguiu reduzir o desperdício em mais de 1,7 milhão de itens. Startups como a israelense Wasteless também estão inovando com precificação dinâmica para produtos próximos ao vencimento, diminuindo as perdas em até 32,7%.
Essas práticas estão alinhadas com um novo modelo de varejo: mais eficiente, socialmente responsável e financeiramente sustentável.
Inteligência artificial em toda a operação
De acordo com Daniel Milagres, CMO da Hortifruti Natural da Terra, a inteligência artificial vai além do estoque. “Usamos desde chatbots no atendimento até modelos preditivos que ajustam os pedidos com base em vendas semanais de cada unidade”, comenta. Isso evita tanto a ruptura quanto o excesso de produtos nas gôndolas.
Mas o contato humano continua essencial. A rede também aposta em ações criativas como “gôndola pegar ou pegar” e “sacolas surpresas” — iniciativas que oferecem descontos em produtos perto do vencimento e estimulam o engajamento do cliente na redução de perdas.
Parcerias e ações sustentáveis
Além da tecnologia, o combate ao desperdício passa por iniciativas sociais. A HNT mantém parcerias com ONGs como Mesa Brasil e Prato Cheio, ampliando a redistribuição de alimentos em períodos sazonais. Já em termos legais, redes como o Grupo Máximo Supermercados utilizam softwares que rastreiam a validade dos produtos e ajustam automaticamente os preços para evitar penalidades e descarte.
Fechar o ciclo é o próximo passo
Mesmo com toda a tecnologia e controle, parte dos alimentos inevitavelmente se perde. É aí que entram soluções como a compostagem e estudos sobre embalagens biodegradáveis, fortalecendo a ideia de um ciclo sustentável. A proposta do “best before”, comum na Europa, também começa a ganhar força no Brasil como alternativa ao descarte precoce.
O futuro é coletivo
Por fim, reduzir o desperdício não é tarefa de um só elo da cadeia. Exige um esforço conjunto de supermercados, produtores, fornecedores, governo e consumidores. Como reforça Milagres: “sozinhos, não resolvemos o problema. A mudança só acontece quando todos estão envolvidos.”
